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Mostrando postagens de junho, 2020

White Jordan: a história da rainha Hortência

FREDERICO MORIARTY  – As categorias de base do basquetebol eram divididas por idade. Com 16 anos eu jogava na categoria infanto-juvenil pela Associação Desportiva Classista Minercal. Naquele ano a empresa decidiu investir pesado no basquete feminino. Trouxe meia dúzia de excelentes jogadoras e ela, a rainha das quadras: Hortência Marcari. Dona de vários títulos e muitas cestas, a moça de Potirendaba passou 8 anos em Sorocaba. Ganhou tudo o que se possa sonhar no esporte coletivo. O técnico da equipe fazia alguns treinos pesados para as mulheres da Minercal. A estratégia era botar elas pra treinarem contra os homens. Não os adultos, nós do infanto-juvenil. Deraldo, nosso técnico, avisou: como você é o melhor marcador, pega forte e tem 1,88m, vai marcar a Hortência. Ali eu tremi. Hortência e a piracicabana Paula eram duas lendas do basquete feminino, mesmo antes de conquistaram todos os títulos possíveis nos 10 anos seguintes. A gente só queria estender um tapete vermelho no chão pra ela

Manual de Sobrevivência no Inferno para pretos e pobres no Brasil. A música dos Racionais MCs

FREDERICO MORIARTY  – Sexta-feira quente, eu voltava de São Paulo. Cometa lotado. A única diversão da gente era o velho walkman. Ouvia uma fita dos Paralamas do Sucesso. Os PMs armados voltavam para casa com um riso indisfarçável. Horas depois, descobri a notícia: naquele 2 de outubro de 1992, para conter uma suposta rebelião na maior casa de Detenção da América Latina, denominada de Carandiru, 111 presos foram mortos, a maioria deles com tiros na nuca, a mando do facínora governador paulista Luiz Antonio Fleury, ex-secretário de segurança, ex-promotor, ex-delegado e ex-“poste” de um dos mais corruptos políticos de nossa história, o campineiro Orestes Quércia, que, em 27 anos, foi de vereador a governador de São Paulo, e ao falecer, em 2011, deixou uma fortuna que passava de R$ 1,5 bilhão. Nos churrascos em família se ouvia: “Que pena, deviam ter matado todos”. Nas periferias a frase era: “Sem justiça não há paz”. Numa sociedade cindida, a violência era um rio de sangue que separava as