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Mostrando postagens de 2020
Antonino e Virginia saíram apressados do escritório. Caminharam calados até a virada da Praça. Pararam em frente ao busto do rei Vitor Emanuel e se entreolharam. - Dona Virginia,  a senhora endoidou lá dentro. - Endoidei com razão.  Sujeito asqueroso. - Quase a senhora põe tudo a perder. .. -Perder o quê? O homem já tinha negado as viagens. E deixa de ser frangote padrinho. Se eu não tivesse agarrado o comissário pelas fuças, não teria conseguido as passagens. O importante agora é convencer Francesco.  Antonino se acalmou e começou a rir.  - Se a senhora visse a cara de desespero que o homem fez. Na hora que meteu as unhas no braço ele se curvou todo, soltou um gemido surdo e acho que até mijou nas calças,  porque ficou uma mancha escura nas partes. Mijou-se todo.  E os dois amigos desceram a rua rindo alto. Pegaram a estrada lá por 14h. Tiveram fome. Seu Antonino levara um grande pão com um pouco de queijo para comerem no caminho. Sentaram-se num mato verde. Antonino cortou duas fatia

White Jordan: a história da rainha Hortência

FREDERICO MORIARTY  – As categorias de base do basquetebol eram divididas por idade. Com 16 anos eu jogava na categoria infanto-juvenil pela Associação Desportiva Classista Minercal. Naquele ano a empresa decidiu investir pesado no basquete feminino. Trouxe meia dúzia de excelentes jogadoras e ela, a rainha das quadras: Hortência Marcari. Dona de vários títulos e muitas cestas, a moça de Potirendaba passou 8 anos em Sorocaba. Ganhou tudo o que se possa sonhar no esporte coletivo. O técnico da equipe fazia alguns treinos pesados para as mulheres da Minercal. A estratégia era botar elas pra treinarem contra os homens. Não os adultos, nós do infanto-juvenil. Deraldo, nosso técnico, avisou: como você é o melhor marcador, pega forte e tem 1,88m, vai marcar a Hortência. Ali eu tremi. Hortência e a piracicabana Paula eram duas lendas do basquete feminino, mesmo antes de conquistaram todos os títulos possíveis nos 10 anos seguintes. A gente só queria estender um tapete vermelho no chão pra ela

Manual de Sobrevivência no Inferno para pretos e pobres no Brasil. A música dos Racionais MCs

FREDERICO MORIARTY  – Sexta-feira quente, eu voltava de São Paulo. Cometa lotado. A única diversão da gente era o velho walkman. Ouvia uma fita dos Paralamas do Sucesso. Os PMs armados voltavam para casa com um riso indisfarçável. Horas depois, descobri a notícia: naquele 2 de outubro de 1992, para conter uma suposta rebelião na maior casa de Detenção da América Latina, denominada de Carandiru, 111 presos foram mortos, a maioria deles com tiros na nuca, a mando do facínora governador paulista Luiz Antonio Fleury, ex-secretário de segurança, ex-promotor, ex-delegado e ex-“poste” de um dos mais corruptos políticos de nossa história, o campineiro Orestes Quércia, que, em 27 anos, foi de vereador a governador de São Paulo, e ao falecer, em 2011, deixou uma fortuna que passava de R$ 1,5 bilhão. Nos churrascos em família se ouvia: “Que pena, deviam ter matado todos”. Nas periferias a frase era: “Sem justiça não há paz”. Numa sociedade cindida, a violência era um rio de sangue que separava as