FREDERICO MORIARTY – Saímos da fase 1, a da euforia com o isolamento. Estamos em meio à fase 2: o conflito. Cansamos, mas não temos alternativa. Logo virá a tentativa de equilibrar os opostos. Não posso sair com “Odeio ficar em casa”. Quando as mortes passarem do milhar e a maioria de nós tivermos perdido alguém próximo ou tenha alguém querido em estado grave, entraremos em depressão. Será a fase mais difícil e dolorosa.
Será o momento em que estaremos psicologicamente em frangalhos, mas que teremos de ter força para aguentar o tranco e proteger quem estiver por perto e, claro, a nossa própria sanidade. Vencida essa etapa, que espero seja curta e com o mínimo de dor possível, entraremos no estágio final: a de que a quarentena é inexorável mas tem fim.
Vamos acordar depois disso num dia frio de outono, céu cinzento, coração marcado. Daremos passos curtos, amedrontados, tímidos. Uma libertação que nos deixará marcas pelo corpo. Um aprendizado que será diferente para cada um de nós, uma dor que só nós saberemos o tamanho. Aos poucos, muito aos poucos, abriremos um sorriso pelas ruas.
Reencontraremos nosso pai, nossa mãe, nosso irmão e irmã, nossos filhos, nossos amigos e poderemos abraçá-los longamente, com lágrimas escorrendo pela alma e a sagração da divindade de ainda termos a quem amar e de estarmos ali, vivos e fortalecidos. Exatamente nessa hora, um pássaro irá cantar lá do alto, como sempre o fez, mas como nunca antes sentimos: com a beleza de seu silvo.
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