FREDERICO MORIARTY – Havia 10 anos o time sorocabano se profissionalizara. No ano anterior, após uma batalha histórica na final contra o alvirrubro América de São José de Rio Preto, o São Bento conseguira o acesso para a Divisão Especial do Campeonato Paulista. Time de bons jogadores – que depois se destacaram fora de Sorocaba como Bazzaninho, Chicão, Raimundinho, Picolé e Paraná -, estava em 4º lugar no Campeonato. A FPF marcou a partida entre Santos e São Bento ás vésperas do feriadão de Todos os Santos, quem sabe uma homenagem aos 2.
O poderosíssimo time de Pelé era tricampeão paulista e bicampeão da Taça Brasil, bicampeão da Libertadores e há duas semanas de se tornar bicampeão mundial. Trouxe boa parte dos titulares que 17 dias depois iriam derrotar o Milan no Maracanã, incluindo o Rei Pelé.
Artidoro Mascarenhas, o prefeito da cidade, deu ponto facultativo para os servidores naquele 30 de outubro de 1963. Os bancos encerraram o expediente duas horas antes. O comércio também fechara as portas ( alguns com bandeirinhas do São Bento) antecipadamente. Pelé parava até guerra se fosse preciso.
O estádio da rua dos morros agora recebia o nome dum ex-presidente do clube, o Doutor Humberto Reale. Estava lotado e a renda bateu o recorde em jogos no interior: mais de 5,138 milhões de cruzeiros ( equivalente a 245 salários mínimos da época).
Aos 5 minutos do primeiro tempo numa atrasada equivocada, Raimundinho rouba a bola, finta o grande goleiro Gilmar e faz o primeiro tento do São Bento. A euforia toma conta das arquibancadas. 19 minutos depois é a vez de Bazzaninho – cobrando falta -, ampliar o marcador. A incredulidade era total no gramado. Seis minutos depois Pelé começa a restabelecer a ordem: gol do Santos. Aos 44, o craque alviceleste Nestor lança a bola para Picolé, num contra-ataque rápido o atacante dribla 3 jogadores do time da Vila Belmiro e faz um golaço: era o terceiro do time da casa. Picolé acabou sendo eleito como melhor atacante daquele campeonato.
O técnico Lula alterou o modo de jogar do time praiano para o segundo tempo, mas só aos 25 minutos Pelé encontrou Toninho livre e este diminuiu o placar. Os últimos 20 minutos foram de tortura para os milhares de sorocabanos que estavam no estádio, a cidade estava silenciosa,ninguém nas ruas, nenhum carro ou charrete, parecia que todos morreram. Vez ou outra se ouviam os gritos do narrador da rádio. O tempo parou. Chegaram os últimos 5 minutos de jogo. Ao contrário do que se esperava, o São Bento partiu para o ataque, sufocou o Santos, conquistou 5 escanteios e por pouco não fez o quarto gol.
Aos 17h50min o árbitro Albino Zanferrari encerra a partida: São Bento 3 versus Santos 2. Muitos torcedores transbordavam em lágrimas. beijos efusivos foram dados, abraços de felicidade se espelhavam. O mundo girava em torno de Sorocaba naquele momento e a terra era azul. Os milhares de torcedores desceram as ruas da Vila Hortência cantando hinos de festa e do São Bento. Sim, ele, o Deus dos gramados estava estatelado no chão, arrasado pela derrota, sem o sorriso marcante do maior camisa dez da história. Do outro lado Valter, Julião, Chicão, Bazzaninho, Picolé, Raimundinho, Afonsinho, Nestor, Odorico, Salvador e Paraná comemoravam. Os onze herois de um time pequeno, caipira, mas que derrotara o melhor time de futebol que já aparecera no Planeta.
Azul, por sinal,
Azul, por sinal,
Fotos: entrada do estádio Humberto Realle, imagem do jogo ( autor desconhecido), capa do jornal Estado de S.Paulo 31/10/1963 e foto do gol de Picolé publicada no Estado de S.Paulo ( a péssima resolução é deles)
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