Frederico Moriarty
Entre os 881 mortos de ontem havia o choro desesperado da mãe. O lamento da filha que dias antes deu seu último beijo no pai e este ouviu o derradeiro “eu te amo”.Uma miríade de rostos sem nomes, corpos sem despedida, almas moribundas. Foi um dia frio, gelado, de perdas e tragédias familiares. Toda dor é infiníta. Toda morte tem o silêncio surdo dum parafuso tampando o caixão fúnebre. O horror é de tal dimensão que não se prestam mais homenagens. Os vivos ficam estáticos e resignados frente ao sarcófago lacrado. Antes disso angustiaram-se sem notícias do enfermo tão querido e necessário. É uma morte besta, causada pelo invisível. Não há mais os passos tristes do cortejo em direção à cova. Estas, estão prontas antes mesmo do último suspiro. E são muitas, como uma imensa escadaria de valas. De sete palmos de fundura.
Em meio ao tenebroso cenário, muitos gritam: levantem seus corpos desfalecidos e ponham-se a trabalhar. Inventam que o fim da vida é uma invenção. Que a dor e a ferida de milhões são uma trava ao capital. Vilipendiam túmulos e cadáveres. Vilipendiam a inteligência, o respeito e a dignidade humana. Nos relembram o quanto abjeto e pérfido pode ser um homem. Nos dão a certeza que numa guerra se vão muitos de nossos melhores soldados e sobrevivem a maioria dos generais hipócritas em suas salas confortáveis e arejadas. Assistindo pelas janelas o sangue jorrar como um rio, enquanto sorvem do mais delicioso vinho e tripudiam do sofrimento alheio.
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